CAMINHANDO JUNTOS
A expressão “caminhando juntos” encontra-se em Gênesis 22.6 e refere-se à caminhada de Abraão com seu filho Isaque rumo ao monte Moriá, aonde Isaque seria oferecido a Deus em sacrifício. Claro que o sacrifício não se concretizou, pois Deus apenas estava pondo a fé e a fidelidade de Abraão à prova.
Não se pode deixar de notar que no memento mais difícil para Abraão, em que ofereceria seu filho, seu único filho a quem amava (Gn 22.2), ele tenha andado junto a ele. O momento era igualmente difícil para Isaque, as dúvidas lhe atormentavam. Ali estavam a lenha, o cutelo e o fogo, mas cadê o cordeiro (Gn 22.7)? No momento da dúvida, da incerteza, da insegurança, caminhar ao lado do pai era alentador. Como escreveu o profeta: “um ao outro ajudou e ao seu companheiro disse: esforça-te” (Is 41.6).
Discipulado é isto: caminhar juntos! Andar lado a lado nos momentos de alegria e tristeza. Dividir pensamentos, crenças e vida. A frase mais usada em casamentos nada tem a ver com o rito, foi dita por uma nora a uma sogra, no momento de inteiro abandono desta: “Não me instes a que te abandone e deixe de seguir-te. Porque aonde quer que tu fores, irei eu; e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo será o meu povo, o teu Deus será o meu Deus” (Rt 1.16). Não há verdade mais completa no labor discipular do que esta expressa por Rute a Noemi.
Robert E. Coleman, em seu livro “O Plano Mestre de Evangelismo”, afirma que a estratégia de Jesus no discipulado incluiu “selecionar” doze e andar com eles, o que denominou de “associação”. Estar com os discípulos era o princípio central do discipulado de Jesus. “Ele era sua própria escola e seu próprio currículo” (p. 39). Ele os selecionou “…para estarem com ele e para os enviar a pregar” (Mc. 3.14). Andar com Jesus, estar com Ele, conviver com Ele era preponderante na formação do caráter dos discípulos. Mais que “dizer a” eles, “fazer com” eles, era a estratégia.
Falhamos demasiado no processo de discipulado porque nos concentramos mais no “dizer a” do que no “fazer com”. Transformamos o discipulado em um curso de estudo bíblico. O resultado? Homens e mulheres que sabem muito do Cristianismo, mas vivem longe do Cristo. Respondem questões de conhecimento bíblico, mas não sabem como este conhecimento se aplica ao dia-a-dia da vida. Homens que seriam aprovados com nota máxima em uma seleção de conhecimento bíblico, mas que seriam reprovados como cristãos por seus familiares, vizinhos e colegas de trabalho.
O que fazer? Largar o papel e caminhar com o discipulando. Como Abraão, caminhar juntos. Como Rute, não abrir mão do outro e comungar a caminhada, a família, a fé e o Deus que seguimos e cremos.
Entenda que o mundo virtual, as redes sociais são importantes, mas não há discipulado virtual. Discipulado é vida na vida, é caminhar juntos, partilhar princípios de vida e visão de mundo.
Os discípulos de Jesus lhe pediram: “ensina-nos a orar” (Lc 11.1). Por quê? Porque viram sua vida de oração. Eles também imploraram: “aumenta-nos a fé” (Lc 17.5). Por quê? Porque o viram exercer a fé e transformar pessoas e situações. No trabalho de discipulado devemos esperar que aqueles que discipulamos para Jesus nos peçam coisas semelhantes. Paulo não esperou que os coríntios lhe pedissem, ele mesmo disse: “sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo” (I Co 11.1). Que os que discipulamos olhem para nós e vejam os valores espirituais que temos e os desejem ter também!
Pr Gilvan Barbosa Sobrinho