Um canto para leitura e reflexão

DANÇA NO CULTO

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Por Rolando de Nassau

(Dedicado à leitora Eneida Soares Ribeiro, do Rio de Janeiro, RJ)

“For you and I are past our dancing days” (Shakespeare)

“Um erro não se torna verdade por muitos o aceitarem,e nem uma verdade se torna erro por poucos a seguirem” (Gandhi)

Algumas passagens da Bíblia referem-se à dança. São comentadas a seguir:

1. Êxodo 15.20 – Se Miriã, irmã de Arão, seguida de mulheres, dançou (dependendo da tradução), deu o exemplo, pois, alguns dias depois, o povo dançou diante do bezerro de ouro feito por Arão. Indignado, Moisés, vendo o bezerro de ouro e as danças, arremessou as tábuas da lei, queimou o ídolo e ordenou aos levitas a matança dos idólatras (Êxodo 32.1-35).

2. Juízes 11.34 – Tendo Jefté vencido os amonitas, sua filha saiu-he ao encontro com danças. Se ela dançou (dependendo da tradução), não foi no culto.

3. I Samuel 18.6, 7 – As mulheres cantaram e dançaram (dependendo da tradução) diante do rei Saul, por ocasião do retorno triunfal de Davi, mas não foi durante um culto.

4. II Samuel 6.14, 15 – O rei Davi levou a Arca para uma tenda em Jerusalém, e dançou acrobaticamente, dando enormes saltos, mas não foi no culto. Entrando a Arca em Jerusalém, Mical, filha de Saul, vendo as cambalhotas do rei Davi, o desprezou, por ter se portado como um simples acrobata (II Samuel 6.16 e I Crônicas 15.29).

5. Salmos 149.3 e 150.4 – O salmista ordena que o povo louve o nome de Deus “com danças”, mas não no templo e durante o culto. A tradução mais adequada ao contexto musical (louvor com canto e música instrumental) seria “com flauta” (Ver Tradução de Almeida – Revista e Corrigida).

6. Lucas 15.25 – Numa parábola, Jesus, contando a estória do filho pródigo, notou que o filho mais velho, ao voltar para casa, ouviu a música de dança, mas não no templo e durante o culto.

Diferentemente da arte musical, cultivada desde os primórdios (Gn 4.21), as artes plásticas (desenho, pintura, escultura) são taxativamente condenadas no Decálogo (Êx 20.4), quanto ao seu uso religioso. A igreja primitiva colocou os cristãos em guarda contra os prazeres mundanos, mas houve quem animasse suas festas com danças, alegando que era “para honrar a Deus”.

Durante a Idade Média, houve a dança ritual no templo. No século 17, começou a desenvolver-se a coreografia. Jean Boiseul, em 1606, confessou-se assustado ante o fato de que se pretendia “introduzir a dança nas igrejas”.

A dança volta a rondar as portas dos templos evangélicos. Como se não bastasse, a profanidade da música instrumental, a sensualidade da dança conspurca a reverência do culto. A coreografia distrai a atenção da congregação. Vendo as evoluções dos que dançam, diminui o interesse da congregação em ouvir a mensagem pastoral. Se o culto se transforma num “show”, torna-se secundária a pregação.

Por que o canto coral e a pregação estão perdendo sua antiga importância? Vivemos na era do espetáculo e do entretenimento.

Até a década de 90, as denominações evangélicas no Brasil conseguiram manter afastadas de seus filiados as artes mundanas. Alguns crentes, não suportando a sã doutrina denominacional, procuraram introduzir a dança em suas igrejas (II Tm 4.3, 4).

Recentemente, lemos reportagem sobre projeto coreográfico que vem sendo desenvolvido desde 2008, com a participação de milhares de pessoas, representando dezenas de igrejas evangélicas.O propósito declarado dos promotores dos eventos é apresentar diferentes modalidades de técnicas coreográficas: balé (forma de dança teatral com uma técnica codificada desde o século 17), dança moderna(dança de concerto), dança contemporânea (praticada depois de 1950),“street dance” (“jazz” dos EUA no princípio do século 20; “hip hop” de New York, em meados desse século; “krumping” de Los Angeles na década de 80). Nada impede que os dançarinos evangélicos sejam influenciados pela “free dance” de Ruth St. Denis (1879-1968), que propôs um estilo de dança religiosa a ser adotado por cristãos e não cristãos.

 O que seriamente nos preocupa é que esses aficionados da dança pretendem apresentá-la nos templos, durante cultos de adoração. A princípio, em salas de espetáculo; depois, nos templos evangélicos! (Ezequiel 8.6). Querem que a arte da adoração fique a serviço da arte da dança!

Fonte: O Jornal Batista de 4/5/2014, p. 3

Comentários em: "DANÇA NO CULTO" (2)

  1. Marlú Lindoso Norberto da Silva disse:

    Obrigada pelo esclarecimento sobre este assunto. Concordo com o senhor. Acho também que em vez de louvar, se fica prestando atenção a coreografia, sem nem meditar na letra do que se está ouvindo..

  2. Eu detesto dança em culto, mas muito mais por fatores culturais do que proibição bíblica. O que me pareceu contraditório é o autor do texto criticar a dança, citando Shakespeare e Gandhi (vixi). Além disso, comete a indelicadeza de pressupor que o brasileiro comum é OBRIGADO a entender, não apenas o Inglês mas muito mais o que o autor de Romeu e Julieta quis dizer com a expressão, uma vez que traduzida ao pé da letra não diz nada..

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